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quinta-feira, 8 de maio de 2014

FALTA DE SONO

Nikhil Swaminathan

EMOÇÕES DO DIA SEGUINTE: Um novo estudo mostra que, quando não dormem as pessoas ficam mais propensas a agir de forma exageradamente emocional e irracional, uma descoberta que sugere que o sono pode ter uma participação em vários distúrbios psiquiátricos.
Não há dúvida de que as pessoas precisam dormir: estudos já associaram a falta de descanso a tudo, desde distúrbios no sistema imunológico até insuficiência cognitiva para controlar o peso.

Na verdade, o psicólogo Matthew Walker, da University of California em Berkeley, afirma que “quase todos os distúrbios psiquiátricos apresentam algum tipo de problema relacionado ao sono”. Mas, segundo ele, os cientistas anteriormente acreditavam que os problemas psiquiátricos levam a dificuldades para dormir. Entretanto, uma pesquisa realizada por seu laboratório sugere que, na verdade, o que acontece é o contrário; ou seja, a falta de descanso está causando transtornos psicológicos.

A equipe de Walker e colaboradores da Harvard Medical School chegaram a essas conclusões, publicadas no Current Biology, após trabalharem com 26 alunos saudáveis, com idades entre 24 e 31 anos. Parte deles passou uma noitada em claro; a outra teve uma boa noite de descanso.

Entre os voluntários, 14 passaram 35 horas diretas sem descanso antes de serem examinados em um aparelho de ressonância magnética funcional (fMRI), onde o cérebro de cada um foi acompanhado enquanto observavam um conjunto de 100 imagens cada vez mais perturbadoras à medida que eram exibidas. As primeiras eram fotos de uma cesta de vime vazia em cima de uma mesa; no entanto, as cenas mudavam à medida que a série progredia para cenários mais assustadores, como uma tarântula nos ombros de uma pessoa e, finalmente, imagens de vítimas de queimadura e outras visões traumáticas.

Os pesquisadores monitoraram, principalmente, a amígdala, estrutura do mesencéfalo que decodifica as emoções, e perceberam que os grupos de voluntários apresentavam parâmetros similares de atividade ao observarem imagens inofensivas. Mas à medida que as cenas se tornavam cada vez mais apavorantes, a amígdala dos participantes privados do sono se agitava, apresentando 60% mais atividade em relação à reação da população normal. Além disso, os pesquisadores notaram que cinco vezes mais neurônios na região estavam transmitindo impulsos no cérebro daqueles que não dormiram.

Walker descreveu o aumento na reação emocional em estado de cansaço como “profundo”, destacando que “nunca testemunhamos um aumento dessa magnitude entre os dois grupos em nenhum dos estudos anteriores”.

A equipe também verificou as leituras do fMRI para determinar se quaisquer outras regiões do cérebro demonstraram um padrão similar de atividade, o que indicaria que as redes cerebrais estavam se comunicando entre si. Nos participantes normais, a amígdala parecia estar se comunicando com o córtex pré-frontal medial, uma camada externa do cérebro que, de acordo com Walker, ajuda a contextualizar as experiências e emoções. Mas, no cérebro daqueles que não dormiram, a amígdala parecia ser "reprogramada", conectando-se com uma área do tronco cerebral chamada locus coeruleus, que secreta noradrenalina, um hormônio precursor da adrenalina que desencadeia reações do tipo “lutar ou fugir”.

“O córtex pré-frontal medial é o policial do cérebro emocional”, afirma Walker. “Ele nos torna mais racionais. Essa conexão inibitória de cima para baixo é interrompida na condição de privação de sono. Aparentemente a amígdala é capaz de perder o controle.” As pessoas nesse estado sentem como se estivessem em uma montanha russa de emoções, apresentando sinais de transtorno e irritação ou até euforia em alguns momentos, afirma.

“Parece haver uma relação casual entre o sono prejudicado e algumas sintomatologias e distúrbios psiquiátricos que estamos observando, afirma Robert Stickgold, professor adjunto de psiquiatria da Harvard Medical School que não participou deste estudo. Ele menciona pesquisas associadas à apnéia do sono, em que a respiração é descontínua, até distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade, e evidências de haver uma conexão entre depressão e insônia como exemplos. “Pode ser que essas regiões frontais mediais estejam dizendo ao resto do cérebro ‘pode relaxar’, afirma. “Esses circuitos ficam exaustos ou se tornam alterados depois da falta de sono.”

Walker conta que a equipe agora planeja examinar os efeitos da interrupção de certos tipos de sono, tais como o sono REM ou o sono de onda lenta. “Acho que podemos começar a pensar sobre uma nova função potencial para o sono”, diz Walker. “Na prática, o descanso prepara nosso cérebro emocional para as interações sociais e emocionais do dia seguinte.”

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